Na adaptação, ou transposição, de uma obra literária para um filme, há elementos que são facilmente transferíveis e outros que se apresentam como problemas. Um desse problemas é a metáfora.
As metáforas, na prosa, não são, pelo menos na prosa mais comum, tão opacas e cheias de significados quanto na poesia. Uma metáfora que segue o padrão usual das contidas nos textos mais prosaicos parece ser mais facilmente transferida para um filme do que uma metáfora de um texto poético.
Um filme, no entanto, não consegue, normalmente, construir metáforas como as de um texto literário prosaico, pois, utilizando-se de imagens, é muito objetivo, o que o impede de ser, à primeira vista, metafórico.
O filme O Segredo de Brokeback Mountain, dirigido por Ang Lee, foi baseado num conto da escritora norte-americana Annie Proulx. Em uma das cenas finais da obra (seja conto, seja filme), Ennis Del Mar visita a casa dos pais de Jack Twist, depois de saber da morte dele, seu amante. Compare a cena com o texto do conto:
No conto, temos o seguinte:
“A camisa parecia pesada até ele ver que havia outra dentro dela, as mangas cuidadosamente vestidas nas mangas da de Jack. (...) o par igual a duas peles, uma dentro da outra, duas em uma.” (p. 64)
No conto, não só as duas camisas são uma metáfora para um abraço entre os dois amantes, um abraço que representa a união dos dois, como também há uma comparação, uma aproximação metafórica, entre as camisas e as peles dos dois.
No filme, Ennis encontra a camisa do mesmo jeito, e vê a camisa de Jack dentro da dele. Para fazer a aproximação das camisas como duas peles, Ang Lee fez com que Ennis abraçasse as camisas, como se estivesse abraçando o próprio Jack.
Uma solução razoável para um problema difícil, mas que foi tão bem realizada no filme que a cena parece até mais bonita, sendo acompanhada pela música e pela ótima atuação.
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filme:
O Segredo de Brokeback Mountain, 2005. (dir: Ang Lee)
livro:
PROULX, Annie. O Segredo de Brokeback Mountain. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2006
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*Uma primeira versão desse texto foi publicada originalmente no suplemento 'Augusto' do Jornal da Paraíba de 26 de Novembro de 2006 (nessa edição, o texto saiu com a autoria errada, mas na edição posterior do suplemento foi publicada uma errata, indicando meu nome como autor verdadeiro do texto).
As metáforas, na prosa, não são, pelo menos na prosa mais comum, tão opacas e cheias de significados quanto na poesia. Uma metáfora que segue o padrão usual das contidas nos textos mais prosaicos parece ser mais facilmente transferida para um filme do que uma metáfora de um texto poético.
Um filme, no entanto, não consegue, normalmente, construir metáforas como as de um texto literário prosaico, pois, utilizando-se de imagens, é muito objetivo, o que o impede de ser, à primeira vista, metafórico.
O filme O Segredo de Brokeback Mountain, dirigido por Ang Lee, foi baseado num conto da escritora norte-americana Annie Proulx. Em uma das cenas finais da obra (seja conto, seja filme), Ennis Del Mar visita a casa dos pais de Jack Twist, depois de saber da morte dele, seu amante. Compare a cena com o texto do conto:
No conto, temos o seguinte:
“A camisa parecia pesada até ele ver que havia outra dentro dela, as mangas cuidadosamente vestidas nas mangas da de Jack. (...) o par igual a duas peles, uma dentro da outra, duas em uma.” (p. 64)
No conto, não só as duas camisas são uma metáfora para um abraço entre os dois amantes, um abraço que representa a união dos dois, como também há uma comparação, uma aproximação metafórica, entre as camisas e as peles dos dois.
No filme, Ennis encontra a camisa do mesmo jeito, e vê a camisa de Jack dentro da dele. Para fazer a aproximação das camisas como duas peles, Ang Lee fez com que Ennis abraçasse as camisas, como se estivesse abraçando o próprio Jack.
Uma solução razoável para um problema difícil, mas que foi tão bem realizada no filme que a cena parece até mais bonita, sendo acompanhada pela música e pela ótima atuação.
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filme:
O Segredo de Brokeback Mountain, 2005. (dir: Ang Lee)
livro:
PROULX, Annie. O Segredo de Brokeback Mountain. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2006
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*Uma primeira versão desse texto foi publicada originalmente no suplemento 'Augusto' do Jornal da Paraíba de 26 de Novembro de 2006 (nessa edição, o texto saiu com a autoria errada, mas na edição posterior do suplemento foi publicada uma errata, indicando meu nome como autor verdadeiro do texto).
Um comentário:
Engraçado conversar com alguém que a gente conhece-não-conhece por esses desvãos da vida.
E muito bom saber que essas camisas já estavam no conto. Preciso lê-lo.
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