Richard Wagner compôs a ópera O Anel dos Nibelungos (um conjunto de quatro óperas, na verdade) fazendo música apropriada para um épico de fantasia no estilo de O Senhor dos Anéis. Mesmo sendo feita com o intuito de acompanhar uma história de fantasia, a música de Wagner ultrapassa esse limite, podendo ser apreciada por si só, principalmente, mas também podendo ser utilizada em outras obras. Prova disso é o que já foi feito em dois filmes completamente diferentes um do outro.
Em Nosferatu: o fantasma da noite, de 1979, Werner Herzog faz uma refilmagem do clássico filme de Murnau, baseado no romance Drácula, de Bram Stoker. Em uma cena do início do filme, Jonathan se aproxima do castelo do Conde Drácula, e sua chegada é acompanhada pelo prelúdio de O Anel dos Nibelungos, de Wagner.
Aqui, a música se torna sombria, carregada de mistério e de aventura pelo desconhecido. O clima é de suspense. Talvez o recorte aqui não seja o suficiente para evidenciar esse clima de mistério da cena, mas acompanhando o filme ele é nítido.
Já em O Novo Mundo, filme de 2005, de Terrence Malick, a mesma música é usada, mas com um tom completamente diferente, de forma que a emoção criada é quase oposta à do filme de Herzog. Numa cena das mais belas do Cinema, Pocahontas e o Capitão Smith se entrelaçam em momentos eternos e etéreos, que, acompanhados pela música de Wagner, tornam-se mágicos e transcendem a simples imagem e o som, tornando-se poesia pura, poesia não-intelectual, uma poesia da natureza, do sentimento, do sentir. Aliadas ao belo texto, as imagens e a música se completam.
Esses dois usos distintos da música de Wagner nos coloca diante de um caso talvez especial: a música é usada tanto para acompanhar o sombrio, o nefasto, quanto o claro, o luminoso; tanto o suspense, o terror, quanto o amor, o belo. Wagner se revela um monstro de escuridão e rutilância.
É interessante perceber como, mesmo sendo bastante distintas, as duas cenas possuem traços em comum. A beleza da natureza é mostrada, nas montanhas e cavernas de Nosferatu e na floresta e no mar de O Novo Mundo. A presença da água também é notada nas duas cenas, o que nos remete à própria ópera de Wagner, cujo prelúdio acontece no rio Reno. Além disso, o final da cena é praticamente o mesmo, em suas estruturas profundas: a personagem chega a um lugar fechado, a uma porta, em um "castelo".
A grande música tem essa capacidade: funcionar de forma bela por si só, mas também transformar e ser transformada, quando aliada à imagem.
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filmes:
Nosferatu: o fantasma da noite, 1979. (dir: Werner Herzog)
O Novo Mundo, 2005. (dir: Terrence Malick)
música (download):
Das Rheingold (prelude). (de Richard Wagner)
Em Nosferatu: o fantasma da noite, de 1979, Werner Herzog faz uma refilmagem do clássico filme de Murnau, baseado no romance Drácula, de Bram Stoker. Em uma cena do início do filme, Jonathan se aproxima do castelo do Conde Drácula, e sua chegada é acompanhada pelo prelúdio de O Anel dos Nibelungos, de Wagner.
Aqui, a música se torna sombria, carregada de mistério e de aventura pelo desconhecido. O clima é de suspense. Talvez o recorte aqui não seja o suficiente para evidenciar esse clima de mistério da cena, mas acompanhando o filme ele é nítido.
Já em O Novo Mundo, filme de 2005, de Terrence Malick, a mesma música é usada, mas com um tom completamente diferente, de forma que a emoção criada é quase oposta à do filme de Herzog. Numa cena das mais belas do Cinema, Pocahontas e o Capitão Smith se entrelaçam em momentos eternos e etéreos, que, acompanhados pela música de Wagner, tornam-se mágicos e transcendem a simples imagem e o som, tornando-se poesia pura, poesia não-intelectual, uma poesia da natureza, do sentimento, do sentir. Aliadas ao belo texto, as imagens e a música se completam.
Esses dois usos distintos da música de Wagner nos coloca diante de um caso talvez especial: a música é usada tanto para acompanhar o sombrio, o nefasto, quanto o claro, o luminoso; tanto o suspense, o terror, quanto o amor, o belo. Wagner se revela um monstro de escuridão e rutilância.
É interessante perceber como, mesmo sendo bastante distintas, as duas cenas possuem traços em comum. A beleza da natureza é mostrada, nas montanhas e cavernas de Nosferatu e na floresta e no mar de O Novo Mundo. A presença da água também é notada nas duas cenas, o que nos remete à própria ópera de Wagner, cujo prelúdio acontece no rio Reno. Além disso, o final da cena é praticamente o mesmo, em suas estruturas profundas: a personagem chega a um lugar fechado, a uma porta, em um "castelo".
A grande música tem essa capacidade: funcionar de forma bela por si só, mas também transformar e ser transformada, quando aliada à imagem.
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filmes:
Nosferatu: o fantasma da noite, 1979. (dir: Werner Herzog)
O Novo Mundo, 2005. (dir: Terrence Malick)
música (download):
Das Rheingold (prelude). (de Richard Wagner)
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