O filme Goya (Goya en Burdeos, 1999), de Carlos Saura, consegue realizar plasticamente aquilo que As sombras de Goya (Goya’s ghosts, 2006) tentou fazer na temática: reproduzir os elementos mais importantes da obra do pintor espanhol Francisco Goya.
Os temas de Goya e o momento histórico que ele viveu são, claro, muito importantes. Mas, numa obra cinematográfica (e, sendo assim, artística) sobre um artista (principalmente em se tratando de um artista plástico), acredito que os aspectos próprios da sua arte em si, do que fez dele um artista excepcional, são mais importantes para serem perseguidos.
Não me entendam mal, sou um profundo admirador de Milos Forman, e gosto muito do seu filme sobre o pintor, mas prefiro quando filmes sobre artistas (principalmente artistas plásticos) tentam reproduzir algo da sua arte na tela.
Assim é o Goya de Saura, que reflete uma plasticidade apoiada principalmente nos contrastes fortes entre luz e sombra, claro e escuro, tão comuns na obra do pintor. A liberdade que Goya deu à pincelada foi precursora da arte moderna, tornando possível a criação dos principais movimentos da pintura moderna: o impressionismo, o expressionismo e o surrealismo.
A narrativa do filme, no entanto, apoiada em movimentos para frente e para trás no tempo, não busca evoluir seguindo o desenvolvimento da pintura de Goya, com um começo mais luminoso, mais claro, seguido de fortes contrastes entre claro e escuro, até que a predominância do negro se tornasse total, em sua fase conhecida como “pintura negra”.
Em alguns momentos do filme, como nas imagens abaixo, o enquadramento e a iluminação parecem resgatar o estilo do pintor, reproduzindo o modelo mais comum em seus quadros: o fundo negro com a figura humana, central, iluminada. Compare imagens do filme com quadros de Goya para ver a semelhança.
Goya ficou surdo, assim como seu contemporâneo Beethoven. Talvez tenha sido isso que fez sua pintura se voltar para algo mais obscuro, e é essa a visão perpetrada no filme, como um todo: um ambiente de escuridão.
Filmes como Goya, ao contrário de As sombras de Goya, necessitam de um espectador que conheça a obra do pintor, que saiba um pouco de seu estilo, e reconheça, no mínimo, seus principais quadros. Um momento do filme deixa isso claro.
A um espectador que não sabe que esse fundo é um quadro de Goya, pode parecer que o cenário é mal feito, pois a imagem ao fundo não simula com realismo um cenário natural, ficando semelhante a uma tela colocada de improviso no fundo da cena. Sabendo-se que se trata de um quadro do artista, fica claro que a intenção era exatamente essa: unir o realismo dos atores com a ilusão do fundo, de forma que ambos os elementos fossem percebidos separadamente.
Goya é um filme artístico, não histórico, como As Sombras de Goya. A invasão de Napoleão e o problema da inquisição na Espanha aparecem apenas como temas para ilustrar a arte do pintor.
A arte de Goya é colocada plasticamente na tela, mas é também elevada a um grau mais moderno em determinados momentos, como na cena acima, demonstrando de Saura não se limita a reproduzir o estilo do artista, mas honrá-lo, buscando uma evolução para além do que Goya fez, mas respeitando sua obra.
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Filmes:
Goya (Goya en Burdeos, 1999, dir: Carlos Saura)
As sombras de Goya (Goya's ghosts, 2006, dir: Milos Forman)
Quadros:
(I) O Colosso, 1808-1812 [óleo sobre tela], Francisco Goya
(II) Saturno, 1820-1823 [óleo sobre muro passado à tela], Francisco Goya
(III) A maja nua, 1798-1800 [óleo sobre tela], Francisco Goya
(IV) Três de maio em Madri, 1814 [óleo sobre tela], Francisco Goya
Os temas de Goya e o momento histórico que ele viveu são, claro, muito importantes. Mas, numa obra cinematográfica (e, sendo assim, artística) sobre um artista (principalmente em se tratando de um artista plástico), acredito que os aspectos próprios da sua arte em si, do que fez dele um artista excepcional, são mais importantes para serem perseguidos.
Não me entendam mal, sou um profundo admirador de Milos Forman, e gosto muito do seu filme sobre o pintor, mas prefiro quando filmes sobre artistas (principalmente artistas plásticos) tentam reproduzir algo da sua arte na tela.
Assim é o Goya de Saura, que reflete uma plasticidade apoiada principalmente nos contrastes fortes entre luz e sombra, claro e escuro, tão comuns na obra do pintor. A liberdade que Goya deu à pincelada foi precursora da arte moderna, tornando possível a criação dos principais movimentos da pintura moderna: o impressionismo, o expressionismo e o surrealismo.
A narrativa do filme, no entanto, apoiada em movimentos para frente e para trás no tempo, não busca evoluir seguindo o desenvolvimento da pintura de Goya, com um começo mais luminoso, mais claro, seguido de fortes contrastes entre claro e escuro, até que a predominância do negro se tornasse total, em sua fase conhecida como “pintura negra”.
(I)
Em alguns momentos do filme, como nas imagens abaixo, o enquadramento e a iluminação parecem resgatar o estilo do pintor, reproduzindo o modelo mais comum em seus quadros: o fundo negro com a figura humana, central, iluminada. Compare imagens do filme com quadros de Goya para ver a semelhança.
(Imagem do filme Goya en Burdeos)
Goya ficou surdo, assim como seu contemporâneo Beethoven. Talvez tenha sido isso que fez sua pintura se voltar para algo mais obscuro, e é essa a visão perpetrada no filme, como um todo: um ambiente de escuridão.
Filmes como Goya, ao contrário de As sombras de Goya, necessitam de um espectador que conheça a obra do pintor, que saiba um pouco de seu estilo, e reconheça, no mínimo, seus principais quadros. Um momento do filme deixa isso claro.
(Imagem do filme Goya en Burdeos)
A um espectador que não sabe que esse fundo é um quadro de Goya, pode parecer que o cenário é mal feito, pois a imagem ao fundo não simula com realismo um cenário natural, ficando semelhante a uma tela colocada de improviso no fundo da cena. Sabendo-se que se trata de um quadro do artista, fica claro que a intenção era exatamente essa: unir o realismo dos atores com a ilusão do fundo, de forma que ambos os elementos fossem percebidos separadamente.
Goya é um filme artístico, não histórico, como As Sombras de Goya. A invasão de Napoleão e o problema da inquisição na Espanha aparecem apenas como temas para ilustrar a arte do pintor.
A arte de Goya é colocada plasticamente na tela, mas é também elevada a um grau mais moderno em determinados momentos, como na cena acima, demonstrando de Saura não se limita a reproduzir o estilo do artista, mas honrá-lo, buscando uma evolução para além do que Goya fez, mas respeitando sua obra.
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Filmes:
Goya (Goya en Burdeos, 1999, dir: Carlos Saura)
As sombras de Goya (Goya's ghosts, 2006, dir: Milos Forman)
Quadros:
(I) O Colosso, 1808-1812 [óleo sobre tela], Francisco Goya
(II) Saturno, 1820-1823 [óleo sobre muro passado à tela], Francisco Goya
(III) A maja nua, 1798-1800 [óleo sobre tela], Francisco Goya
(IV) Três de maio em Madri, 1814 [óleo sobre tela], Francisco Goya
Um comentário:
carai, que cena linda. as cores partem do preto, vai das cores quentes até as frias, terminando no branco; da guerra até a morte. lindo demais.
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