Dois motos-contínuos




O moto-contínuo (ou moto-perpétuo) é um mecanismo hipotético que usaria a energia gerada por ele mesmo para continuar funcionando infinitamente. Na ciência esse mecanismo é impossível, pois as leis da termodinâmica não permitem isso. Na arte, no entanto, tudo é possível, e o moto-contínuo se mostra em poema, ou em música (entre outras formas), de modo metafórico.
Na música, há, por exemplo, a canção "Moto-contínuo" (do disco Almanaque), de Chico Buarque; e, na literatura, o poema "Moto-contínuo" (do livro O Homem artificial), de Braulio Tavares.


Moto-contínuo
(Chico Buarque)

Um homem pode ir ao fundo do fundo do fundo se for por você
Um homem pode tapar os buracos do mundo se for por você
Pode inventar qualquer mundo, como um vagabundo se for por você
Basta sonhar com você
Juntar o suco dos sonhos e encher um açude se for por você
A fonte da juventude correndo nas bicas se for por você
Bocas passando saúde com beijos nas bocas se for por você
Homem também pode amar e abraçar e afagar seu ofício porque
Vai habitar o edifício que faz pra você
E no aconchego da pele na pele, da carne na carne,entender
Que homem foi feito direito, do jeito que é feito o prazer
Homem constrói sete usinas usando a energia que vem de você
Homem conduz a alegria que sai das turbinas de volta a você
E cria o moto-contínuo da noite pro dia se for por você
E quando um homem já está de partida, da curva da vida ele vê
Que o seu caminho não foi um caminho sozinho porque
Sabe que um homem vai fundo e vai fundo e vai fundo se for por você


Moto-contínuo
by Chico Buarque
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MOTO-CONTÍNUO
(Braulio Tavares)

(O espaço, espesso ao gesto, envolve o corpo
e o sepulta no ar, chão cristalino;
a mente, ilha no imóvel, então deflagra
o moto-contínuo).

O plasma da palavra o risco o som
a forma a esquiva chave dos sentidos
o tímpano a retina a sensação
o trêmulo resíduo.

A trajetória inverte-se em retorno
volta a órbita ao ponto de partida:
a palavra, mensagem e mensageira,
é devolvida.

O Eu o cósmico intervalo o Outro
a distância onde cabe o universo
a tentativa o toque e o contato
no pêndulo do verso.

A pergunta a resposta a ida a volta
o som fundido o gelo do silêncio
o nome escrito solto sobre o abismo
a ponte pênsil.

(E o eterno trajeto é retomado
traçando cada vez menores círculos:
o Eu a mágica palavra o Outro
a espiral e o ciclo)


O "Moto-contínuo" de Chico metaforiza a infinitude do amor, revelando um lado quase eterno do homem (ser humano), como se o amor pudesse gerar sua própria energia, sem gastos, para sempre. Isso se mostra também no plano da expressão: as palavras se repetem como se fossem a repetição do movimento do moto-contínuo, e o texto parece girar em torno do "se for por você". Também a música em si se repete ao final, as vozes se repetem, umas por cima das outras, num movimento giratório semelhante ao que se propõe para um moto-contínuo. Basta ver os modelos que foram construídos na tentativa de realizar um moto-contínuo para entender como o movimento circular é imperativo para o mecanismo.
















(I)














(II)




O "Moto-contínuo" de Braulio se mostra também metafórico, mas mais para um lado filosófico e poético do que romântico. O "Moto-contínuo" de Braulio é o universo, infinito em sua constante expansão e contração, e é a poesia, linguagem que se volta para ela mesma, e que se torna infinita em suas possibilidades de significação. O texto de Braulio também se realiza como moto-contínuo pela circularidade das palavras e dos versos, que se mostram unidas pela falta de pontuação dentro das estrofes, mas também recorrentes (como se cada estrofe fosse um novo círculo) pelo ponto final que cada uma tem. A ausência do ponto final do texto também leva o leitor de volta ao começo, retornando para os parênteses, que aparecem para colocar o texto como se isolado do resto.
O "Moto-contínuo" de Chico mostra que o amor pode ser um verdadeiro moto-contínuo, e o de Braulio que a poesia verbal e o universo em si são verdadeiros motos-contínuos.

---

imagens:
(I) Moto-contínuo de J.E.W. Keely (1875)
(II) http://www.progettomeg.it/finsrud_progettomeg.htm

música (link para baixar no 4shared):
Moto-contínuo (Chico Buarque)
do álbum Almanaque (link nas americanas).

livro (link na livraria cultura):
O Homem Artificial (Braulio Tavares).

5 comentários:

Anônimo disse...

Logo que falaste em Moto contínuo, lembrei logo do Moto perpetuo do Paganini. Quando estudava guitarra, caiu-me em mãos esta peça para violino do grande Nicolo (ou seria Nicollo? Santo Orácoogle, me ajude!). Se gosta de música (e pelo jeito gosta, além de seres doutorando em cinema e literatura), deves dar um jeito de conseguir essa obra, se ainda não conheces.

Um abraço fraterno e obrigado pela visita.

Anônimo disse...

POR TRÁS DA BOLHA

(PILOTANDO)


DO NEGRO ASFALTO O CALOR EMANA,
CRUZAM POTENTES MOTORES RONCANDO,
PILOTOS FIRMES, EM FILA INDIANA,
NOSSA AVENTURA ESTA COMEÇANDO.

ADMIRAR A INTERVENÇÃO DIVINA
NUMA MONTANHA, LADEIRA OU RIO
NO HORIZONTE A LINHA CRISTALINA,
É SÓ O INÍCIO DESSE DESAFIO.

LONGAS ESTRADAS SOB O CÉU AZUL
ENTRELAÇADAS EM LINHAS BRILHANTES,
OS VENTOS FRESCOS DO NORTE E DO SUL,
SÃO COMPANHEIROS DESSES VIAJANTES.

MAS DE REPENTE O CÉU SE ESCURECE
E APROVEITAMOS O CAIR DA CHUVA,
UM TEMPORAL NUNCA NOS ENTRISTECE,
ESTAMOS SEMPRE DE JAQUETA E LUVAS.

PARAR UM POUCO SE FAZ NECESSÁRIO
PRÁ RELAXAR E ESFRIAR OS MOTORES,
DAMOS VAZÃO AO NOSSO IMAGINÁRIO,
MIRANDO OS CAMPOS, AS AVES E FLORES.

ENFIM, CHEGAMOS, FELIZES DA VIDA;
RIR, DESCANSAR, RECORDAR DA JORNADA;
NÃO TARDA MUITO E ALGUÉM DÁ PARTIDA,
FILA INDIANA OUTRA VEZ NA ESTRADA.

JÁ DESCANSADO DAS ACELERADAS,
CHEGANDO EM CASA EU TIVE UM PALPITE:
" PARA OS AMANTES DE MOTO E ESTRADAS,
TALVEZ O MUNDO NÃO TENHA LIMITES..."

luiz angelo vilela tannus

Anônimo disse...

POR TRÁS DA BOLHA

(PILOTANDO)


DO NEGRO ASFALTO O CALOR EMANA,
CRUZAM POTENTES MOTORES RONCANDO,
PILOTOS FIRMES, EM FILA INDIANA,
NOSSA AVENTURA ESTA COMEÇANDO.

ADMIRAR A INTERVENÇÃO DIVINA
NUMA MONTANHA, LADEIRA OU RIO
NO HORIZONTE A LINHA CRISTALINA,
É SÓ O INÍCIO DESSE DESAFIO.

LONGAS ESTRADAS SOB O CÉU AZUL
ENTRELAÇADAS EM LINHAS BRILHANTES,
OS VENTOS FRESCOS DO NORTE E DO SUL,
SÃO COMPANHEIROS DESSES VIAJANTES.

MAS DE REPENTE O CÉU SE ESCURECE
E APROVEITAMOS O CAIR DA CHUVA,
UM TEMPORAL NUNCA NOS ENTRISTECE,
ESTAMOS SEMPRE DE JAQUETA E LUVAS.

PARAR UM POUCO SE FAZ NECESSÁRIO
PRÁ RELAXAR E ESFRIAR OS MOTORES,
DAMOS VAZÃO AO NOSSO IMAGINÁRIO,
MIRANDO OS CAMPOS, AS AVES E FLORES.

ENFIM, CHEGAMOS, FELIZES DA VIDA;
RIR, DESCANSAR, RECORDAR DA JORNADA;
NÃO TARDA MUITO E ALGUÉM DÁ PARTIDA,
FILA INDIANA OUTRA VEZ NA ESTRADA.

JÁ DESCANSADO DAS ACELERADAS,
CHEGANDO EM CASA EU TIVE UM PALPITE:
" PARA OS AMANTES DE MOTO E ESTRADAS,
TALVEZ O MUNDO NÃO TENHA LIMITES..."

luiz angelo vilela tannus

Anônimo disse...

Moto-contínuo já existe. É só colocar a palavra no youtube que tu encontrarás facilmente.

Procure também pela variante: magnet motor.

Tem vários lá , simples e fáceis de se fazer.

Anônimo disse...

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