Já falei aqui sobre o que é uma "montage" e sobre o tipo mais comum de "montage". Esse primeiro tipo, embora seja um recurso fraco, uma saída fácil, ainda possui utilidade dentro da narrativa. Um segundo tipo, no entanto, mostra-se bastante inútil para a narrativa, funcionando apenas como "um momento divertido". Esse segundo tipo de "montage" não resume um longo período de tempo, que precisa ser explicado pela narrativa, ele resume apenas algumas horas. Muitas vezes a cena introdutória à "montage", por si só, já basta para construir o necessário da narrativa.
O exemplo mais comum desse tipo de "montage" é a cena de "troca de roupa". A personagem vai comprar roupa e quando começa a experimentar várias na loja, a música se inicia, acabam os sons diegéticos (ou quase acabam, deixando apenas um ou outro importante), e a personagem começa a aparecer na tela cada vez com uma roupa diferente, no ritmo da música, imitando uma estética de videoclipe. Todo mundo já viu uma cena dessa. Ilustro aqui com uma cena de Tudo para ficar com ele, em que há, de forma vaga, uma consciência por parte das personagens da inutilidade (ou da "encheção" de lingüiça) da "montage", uma consciência a respeito do fato de que aquilo não é necessário, mas, se se tem tempo, pode-se fazer, na tentativa de divertir.
Esse tipo de "montage" é pior do que o anterior. Não se trata de uma "saída fácil", na verdade, pois é inútil. Claro que nem tudo precisa ser útil para a narrativa em um filme: há cenas cujo objetivo é aprofundar a personalidade de uma personagem, outras que servem como experimento estético, e, dependendo do gênero, cenas feitas para rir, chorar, assustar, etc. São cenas inúteis para a narrativa, mas úteis para a obra, dentro do seu gênero. No entanto, se a utilidade desse tipo de "montage" é divertir, talvez só tenha conseguido no primeiro filme em que apareceu. O que os cineastas fazem é apenas repetir a fórmula, sem mudar nada. Há modos criativos de divertir sem precisar recorrer a essa "montage", e isso é provado pelas boas comédias que não possuem tal recurso.
A tentativa de divertir em Tudo para ficar com ele não é com a cena (a da "montage") em si, mas com o próprio recurso, e a utilização dele nos filmes.
Brincando às custas da própria "montage", a cena se torna interessante, mesmo que se mostre praticamente igual às cenas tradicionais de "montage" (e mesmo que não seja lá tão divertida). Digo "igual" por ela ter a mesma "utilidade" que as próprias cenas que critica: o divertimento.
O que salva essa cena são as referências culturais americanas (Madona, Olivia Newton-John, etc.) e a menção da "montage" no início, que demonstra o quanto esse tipo de cena é desnecessário, e só acontece quando se tem "tempo" (de filme).
---
filmes (links no adorocinema e no imdb):
Tudo para ficar com ele (The sweetest thing) - dir: Roger Kumble
(vídeos hospedados no youtube)
2 comentários:
Curti muito o blog!
Só queria saber se rola um RSS feed pra eu colocar o blog no meu Netvibes.
Abraço,
Gabriel
coloquei o feed ai do lado direito, logo abaixo do 'destaque'. vlw pela visita.
Postar um comentário