Um dos recursos mais pobres do cinema é também um dos mais característicos dessa arte. A "montage" (assim mesmo, em francês) é típica do cinema, embora se possa imaginar uma montage, digamos, na literatura.
Em uma montage, várias cenas são editadas em conjunto, parecendo um videoclip, de forma que um grande espaço de tempo é mostrado na tela de forma rápida. É um recurso tipicamente hollywoodiano, pois é característica do cinema americano (não é exclusivo, no entanto, e não depende da geografia) explicitar tudo que pode em um filme.
O tipo mais comum de montage é aquele que resume um período de tempo para que a narrativa avance (falaremos sobre outros tipos outro dia).
Para narrar vários acontecimentos que tomariam muito tempo do filme, e que o diretor acha necessário para o espectador compreender, recorre-se à montage.
A mais clássica é a montage de "treinamento": o herói precisa se tornar melhor do que jamais foi, e seu treinamento, de meses, é resumido em poucas cenas, com cortes rápidos, muitas vezes repetidas somente com sugestão de melhoria.
A clássica cena de Rocky ilustra bem esse tipo de montage. (outra bastante conhecida é a de O Grande Dragão Branco)
Normalmente, a cena com montage é acompanhada de uma música que é tocada por inteiro, como se fosse realmente um videoclip. Muitas vezes a cena termina em "fade out", para aumentar mais ainda o efeito de passagem de tempo. A cena de montage da comédia Team America resume muito bem esse tipo de montage, explicando, metalingüisticamente, quase tudo que foi dito aqui.
Outro tipo bastante comum de montage (ainda dentro desse modelo de "avançar a narrativa") é quando um casal se conhece e passa um dia junto, ou quando os dois ficam vários dias, ou meses juntos, passando por várias situações que explicitam a felicidade do casal.
Uma ótima sátira a esse tipo de montage é feita em Corra que a polícia vem aí!. Notem como acontecem coisas que tomariam pelo menos um mês das vidas deles, e ela, no final, diz para ele: "nem acredito que só nos conhecemos ontem", satirizando a relativização do tempo pelo recurso da montage. Notem também como no final aparecem os créditos da canção, como se fosse realmente um videoclip, com o formato clássico de créditos da MTV.
Uma ótima sátira a esse tipo de montage é feita em Corra que a polícia vem aí!. Notem como acontecem coisas que tomariam pelo menos um mês das vidas deles, e ela, no final, diz para ele: "nem acredito que só nos conhecemos ontem", satirizando a relativização do tempo pelo recurso da montage. Notem também como no final aparecem os créditos da canção, como se fosse realmente um videoclip, com o formato clássico de créditos da MTV.
Esse tipo de montage aparece normalmente em tramas mal construídas, que sentem necessidade de explicar ao espectador, através do recurso mais simples, o que aconteceu para que se chegasse em determinado ponto da história. A tecnologia ajuda muito na criação artística, mas, às vezes, deixa o artista preguiçoso, de modo que ele recorre à saída mais fácil. Basta pensar em Hamlet, cuja história dura meses, tem saltos incríveis de tempo e, no entanto, tudo é construído de forma coesa e coerente, e o espectador/leitor consegue entender todas as nuances da narrativa, sem precisar de uma montage.
A montage é um recurso podre, mas não impede que a gente veja a cena de Rocky e pense: "massa".
A montage é um recurso podre, mas não impede que a gente veja a cena de Rocky e pense: "massa".
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filmes (links no imdb):
Rocky, um lutador (dir: John G. Avildsen)
Team America - Detonando o mundo (dir: Trey Parker)
Corra que a polícia vem aí! (dir: David Zucker)
(vídeos hospedados no youtube)
livro
(em português):
Hamlet (William Shakespeare)
(em inglês):
Hamlet (William Shakespeare)
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