No poema "those dancing days are gone" de Yeats, há dois versos que se repentem nas três estrofes.
"I carry the sun in a golden cup.
The moon in a silver bag."
Não pretendo analisar o texto por inteiro aqui, seriam muitas linhas para um blog. Quero apenas pensar sobre esses dois versos, como se estivessem isolados do resto do poema. (Aqui os professores de literatura podem querer me trucidar, peço perdão por esse crime terrível de descontextualização).
No primeiro momento em que nos deparamos com esses versos (pelo menos foi o que aconteceu comigo), é fácil gostar sem ao menos saber o motivo. É algo análogo à visão de um quadro surrealista ou abstrato, apreciamos a imagem sem entendê-la por completo, para só depois descansar a mente sobre a obra e refletir sobre seu significado.
Em um segundo momento, já é possível visualizar a beleza de se carregar o Sol e a Lua consigo, como se fosse somente a lembrança ou a visão dos astros que, por metonímia, fossem carregados
pelo sujeito falante no poema.
Em um terceiro momento, pode-se debruçar sobre as palavras e perceber como o Sol ("sun") se reflete no dourado ("golden"), por ter essa cor, e como a Lua faz o mesmo no prateado ("silver").
Além disso, o copo (ou cálice - "cup"), se visto de cima, possui o formato circular que o Sol também possui sendo visto por nós aqui da Terra. A bolsa (ou saco - "bag") também aparece na Lua; ou melhor, a Lua aparece de novo na bolsa, como se estivesse pendurada no céu, uma lua crescente ou minguante.
O Sol e a Lua, então, estão "carregados" na imagem do cálice dourado e da bolsa prateada, como se o poeta estivesse dizendo que, como poeta, ele vê o Sol e a Lua dessa forma, metaforicamente.
Além disso, é possível perceber uma hierarquia. O Sol, maior e mais brilhante, é ouro, metal mais precioso do que a prata, que é a Lua, astro menor e de menor brilho.
(Ainda é possível fazer outras relações, mas fico por aqui na análise.)
Só nesse terceiro nível, de análise mais precisa, é possível entender de onde veio o prazer primeiro, quando se leu os versos pela primeira vez. É também a partir de então que se torna impossível sentir o mesmo prazer de novo, pois essa racionalização acaba com o prazer puro da simples leitura.
O quadro de Pollock aqui reproduzido pode não ter muito a ver com os versos de Yeats, mas vale para refletir sobre esse prazer que se sente ao ver algo belo, sem necessidade de entendimento racional.
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Recentemente a cantora francesa Carla Bruni lançou um cd (No Promises) com poemas de Yeats, W. H. Auden e Emile Dickinson, entre outros.
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Imagens:
The Deep, 1953. (Jackson Pollock)
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