2001: de Eisenstein a Jakobson





No post anterior, falei do pensamento de Eisenstein sobre montagem. A montagem eisensteiniana pode ser ilustrada com uma cena de 2001: uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick.



Nessa cena, vemos como os objetos (osso e satélite), postos em seqüência, criam um novo sentido, através de uma metáfora. Como diria Eisenstein: dois objetos concretos criam um conceito abstrato. A cena sugere que o osso, que acabara de ser utilizado como ferramenta, é o primeiro passo para a tecnologia futura da humanidade, e é causador da própria evolução humana. Essa comparação é possível pois os dois objetos apresentam o mesmo formato e possuem o mesmo tamanho na tela, além de serem postos em seqüência.

Pensando na poesia verbal, é possível perceber como essas imagens se colocam como palavras no final de versos, que rimam e se colocam em seqüência, construindo o sentido como num poema. Na poesia verbal, duas palavras que rimam constroem sentidos dentro da sequência em que aparecem, ou seja, som e sentido se unem, criando um significado abstrato, metafórico. No cinema, duas imagens semelhantes, colocadas em seqüência, criam esse significado “terceiro”, como na cena acima.
Jakobson explica bem esse fenômeno poético:

“Numa seqüência em que a similaridade se superpõe à contigüidade, duas seqüências fonêmicas semelhantes, próximas uma da outra, tendem a assumir função paronomásica. Palavras de som semelhante se aproximam quanto ao seu significado.”

Analisando a cena mais acuradamente, podemos ir além da questão da evolução da tecnologia. Na cena, temos dois objetos de tamanhos completamente diferentes (um é pequeno, cabe na mão de um homem, o outro é gigante, comporta, provavelmente, vários homens dentro de si), no entanto, as duas tecnologias (osso e objeto espacial) aparecem do mesmo tamanho na tela, pois só assim é feita a metáfora; e mais, dessa forma, os dois objetos têm a mesma importância para a humanidade: no passado remoto, o osso era a ferramenta mais importante da humanidade, agora, é o satélite, de forma que para cada época determinada os dois objetos têm a mesma importância, por isso, têm o mesmo tamanho na tela. Além disso, o osso se movimenta em câmera lenta, enquanto o satélite aparece em tempo normal (nem câmera lenta nem acelerada), mas os dois adquirem o mesmo ritmo, de forma que a aproximação é maior ainda. Essa comparação é possível mesmo se tratando somente de um objeto espacial qualquer, um satélite de comunicações, ou uma estação espacial, por exemplo. No entanto, a aproximação se torna maior ainda quando ficamos sabendo (através da leitura do romance 2001 e do livro Lost worlds of 2001, ambos de Arthur C. Clarke) que se trata de uma bomba nuclear, pois, assim como a bomba, o osso é usado como arma.

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referências:
JAKOBSON, Roman. Lingüística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1975.

*A análise “acurada” da cena foi adaptada da minha dissertação de Mestrado:
AGRA, Anacã Rupert. 2001: uma odisséia da palavra à imagem poética. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal da Paraíba. Inédito.

filmes:
2001: a space odyssey (2001: uma odisséia no espaço). (dir: Stanley Kubrick)
(clipe retirado do youtube)

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Eisenstein na wikipedia: em inglês; em português.
Eisenstein no imdb: em inglês.
Kubrick na wikipedia: em inglês; em português.
Kubrick no imdb: em inglês.
2001 no imdb: em inglês.
Jakobson na wikipedia: em inglês.

2 comentários:

Anônimo disse...

é possível uma metáfora er contruida na linguagem visual?

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu