Expressionismo: cenário




O expressionismo, desde seu surgimento, em qualquer que seja a modalidade artística, tem como característica principal a subjetividade. O que o artista retrata em suas obras não é o mundo objetivo, mas um mundo afetado, alterado, distorcido, pela subjetividade. Essa distorção se mostra presente de diversas formas. Na pintura e no cinema, por exemplo, ela se manifesta, entre outros, no cenário, através da cor e das linhas. As portas, janelas, mesas, cadeiras, paredes, são retratadas com linhas não exatas, tortas, distorcidas. As cores fortes acentuam, assim como as linhas simplificadas e irregulares, a emoção do artista, e expressam, dessa forma, uma subjetividade carregada de emoções fortes.

No quadros de Van Gogh (os últimos, bastante expressionistas), por exemplo, a cor e as linhas expressam muito bem uma realidade afetada pelo subjetivo. As cores são fortes, quase sempre puras, e as linhas não seguem os princípios de proporção e perspectiva tradicionais, compondo imagens distorcidas.


(I)


(II)


(III)

Compare esses quadros de Van Gogh com alguns momentos de O Gabinete do Dr. Caligari, filme de Robert Wiene, de 1920, que inaugurou o expressionismo no cinema. Veja como a cidade de Van Gogh, na base do quadro, se parece com a cidade de Caligari. Note também as linhas incertas do quarto e do café que se assemelham às linhas de interiores e de portas e janelas em Caligari.



A composição em Van Gogh e em Caligari se apresenta quase da mesma forma, apenas com as diferenças de meio (Pintura e Cinema) e de cor (o filme é P&B). As linhas deformadas, cheias de ângulos absurdos se mostram quase iguais. O expressionismo demonstra uma qualidade estética muito aproximada quando se trata de Cinema e Pintura, de modo que não só a expressão subjetiva da obra se mostra presente, mas principalmente os recursos estéticos, provando uma compatibilidade incrível entre essas duas modalidades de arte.

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filme:
O Gabinete do Dr. Caligari, 1920. (dir: Robert Wiene)

imagens:
(I) A noite estrelada, 1889. (Van Gogh)
(II) O quarto de Van Gogh em Arles, 1889 (Van Gogh)
(III) O café de noite, 1888. (Van Gogh)

2 comentários:

Anônimo disse...

Todo dia
lendo um post
e vibrando
com a ampliação
dos teus conhecimentos
no mundo
das artes plásticas,
abração
e belo texto.
Astier

siouxsie_ disse...

Interessante observar que a obra (cinematográfica) não se faz em preto e branco puramente (não sei o nome da técnica). O branco não cabe, porque seria natural(contrastar com o preto), denotando essa influência do mundo afetado, distorcido, subjetivo.Vê-se em Caligari a busca por uma representação da forma (linhas sinuosas do cenário) enquanto na pintura essa forma ja é a característica.Quero dizer, as personagens e o cenário contrastam muito, diferentemente da pintura aonde a figura humana é juntamente distorcida, fundida.No caso de Caligari, essa fusão engatinha, mesmo com os personagens caricatos não se tem uma fusão plena.Remetem a um teatro ( apropriamento das diversas formas de arte).Uma adaptabilidade? Compatibilidade é de certa forma irreal, já que se não cria uma forma própria de representar esse expressionismo (uma das barreiras do cinema).Não que isso desmereça o filme , mas acredito que represente uma certa incompatibilidade com o expressionismo caracteristico da pintura.(No que se refere a um novo conceito artístico é uma tentativa).